Bem-estar, saúde e sustentabilidade caminham cada vez mais lado a lado, refletindo a preocupação das pessoas com a sua própria saúde e a saúde do planeta. São os principais fatores que tendem a influenciar o que os consumidores compram e consomem. Mas também ganham importância em suas decisões os aspectos sociais, éticos e ambientais, a transparência nas informações e os avanços que a tecnologia vem trazendo. Confira as principais tendências de consumo de alimentos e bebidas mapeadas por cinco agências globais de inteligência de mercado para 2020 e os próximos anos
Uma nova era chegou para ficar, marcada por um novo jeito de viver e de se relacionar. Pulsante, sob o impacto da tecnologia, tem transformado hábitos de todas as gerações nos mais diferentes cantos do mundo, dando lugar a novos estilos de vida, ressignificando comportamentos e necessidades.
E tudo a uma velocidade jamais vista até aqui.
As pessoas vivem um novo momento de consumo, desafiando como nunca as indústrias a transformações profundas. Mais conscientes, informadas e digitais, aprenderam a apresentar com maior clareza as suas necessidades pessoais e coletivas.
As diferentes gerações querem viver mais e melhor. E para fugir dos reflexos da rotina urbana cada vez mais acelerada e estressante, cresce a busca por bem-estar aliado à saúde física e mental.
As pessoas entendem que a alimentação é uma importantíssima parceira nesta cruzada, em que que atributos como naturalidade, nutrição e funcionalidade ganham espaço nos cardápios e na preferência das decisões de compra. E o conceito de um novo estilo de vida mais limpa começa a se fortalecer.
Isso tudo com muita conveniência, em porções adequadas ao seu estilo de vida e até mesmo personalizadas. Sem abrir mão da indulgência e do desejo por novas experiências. Conveniência e controle pessoal, inclusive, são os dois temas em evidência nas principais tendências global de consumo de 2020, destaca o Euromonitor no seu relatório de Tendências de Consumo 2020.
Uma visão mais holística do mundo tem ampliado a atenção para questões como ética, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa. A preocupação com causas sociais e desperdício de alimentos, por exemplo, vem ganhando novas dimensões. E o interesse por maior transparência nas informações sobre os ingredientes e histórias envolvendo produtos, processos e empresas cresce a cada dia.
Em forte ebulição nos últimos anos, estes movimentos enraizados em motivações universais têm avançado de forma contínua, interligada e complexa, modificando hábitos e influenciando diretamente o que os consumidores globais compram e consomem.
Para 2020, análises de agências internacionais de inteligência de mercado, como Mintel, Innova Market, Euromonitor, JWT Intelligence e IBM, novamente apresentam pontos convergentes nos mapeamentos das principais tendências de comportamento dos consumidores, que servem para orientar as estratégias de mercado das indústrias de alimentos e bebidas.
“As tendências não começam e param – os modismos – e sempre há um continuum. Também leva algum tempo para a indústria acompanhar, mas como pesquisadores de mercado, podemos ver o que está por vir alguns anos antes de acontecer ”, Afirmou Lu Ann Williams, diretora de inovação da Innova Market Insights, em entrevista sobre os 10 Top Trends 2020 ao portal FoodIngredientsFirst.
Confira, a seguir, as principais tendências de consumo mapeadas como oportunidades importantes para as indústrias globais de alimentos e bebidas para 2020:
ÍNDICE:
- Sustentabilidade, responsabilidade social, ética, transparência e histórias vencedoras
- Propósitos e valores alinhados
- Saúde, bem-estar e naturalidade
- Mood food
- Personalização das dietas
- Experiência, indulgência, conveniência
- Revolução agrícola
- Tecnologia e inovações científicas
Sustentabilidade, responsabilidade social, ética, transparência e histórias vencedoras
As expectativas dos consumidores por sustentabilidade, ética, meio ambiente e responsabilidade social corporativa são crescentes. São reflexos da conexão cada vez mais íntima da preocupação das pessoas com sua própria saúde e a saúde do planeta, intensificando o consumo sustentável.
Um movimento que vem pressionando empresas a priorizar a eco-eficiência, investindo em alternativas sustentáveis, com foco contra desperdício de ingredientes, produtos e embalagens, reciclagem e inclusive reaproveitamento de materiais e produtos.
Esta tendência está entre os 10 Top Trends 2020 do Innova Market Insights. “The Sustain Domain” fundamenta-se em pesquisa que indicou que 87% dos consumidores globais esperam, em média, que as empresas invistam em sustentabilidade em 2019, acima dos 65% em 2018.
Sustentabilidade, responsabilidade social corporativa e ética estão também fortemente pontuados nas previsões da Mintel, no relatório Global Food and Drink Trends 2030, que aponta 3 blocos de tendências para o setor de alimentos e bebidas. Neste ano, a agência inovou ao projetar para um período de 10 anos as previsões sobre o futuro dos mercados globais de consumidores.
Na tendência “Change, Incorporated”, a Mintel defende que as empresas de sucesso serão aquelas que irão melhorar a saúde do planeta e de sua população. Isto porque “os consumidores estão famintos por liderança e mudanças evidentes em questões ambientais, práticas comerciais éticas e saúde pública, entre outras causas importantes”, diz o relatório, que recomenda às empresas de alimentos, bebidas e serviços estabelecerem abordagens ativistas orientadas a resultados para responder às expectativas dos consumidores.
O relatório Global Food and Drink Trends 2030 cita como exemplos iniciativas como a da Nestlé, Arla Foods e Unilever, que estão entre as 22 empresas e varejistas que se comprometeram com a Sustainable Dairy Partnership, que visa melhorar o cuidado com os animais e as condições de trabalho e limitar as emissões de gases de efeito estufa.
Mais recentemente, a Nestlé também se comprometeu em reduzir o uso de plástico em um terço nos próximos 5 anos e anunciou investimento de US$ 2,1 bilhões para encontrar novos materiais recicláveis para utilizar em suas embalagens.
A preocupação com a poluição e a qualidade também é identificada pela JWT na tendência “We Want Clear Air Everywhere”, que diz que este aspecto começa a afetar a escolha do consumidor. Segundo a Pesquisa de Estilo de Vida da Euromonitor International 2019, 60% dos consumidores estão preocupados com as mudanças climáticas e 54% acham que podem dar uma contribuição positiva no mundo com suas compras.
Os consumidores que estão analisando mais de perto seus próprios hábitos de consumo e fazendo mudanças para um futuro melhor vão manter a preocupação com desperdício de alimentos, embalagens recicláveis e ecológicas, dentro de uma visão circular de sustentabilidade, reforça o relatório de tendências para os próximos 10 anos da Mintel. No Brasil, 55% dos adultos concordam que marcas e empresas devem ser mais proativas em oferecer soluções sustentáveis, afirma o estudo.
O movimento de pessoas mudando seus hábitos alimentares para apoiar os esforços ambientais é destacado também no relatório Future 100 2020, do JWT, que sinaliza para 100 tendências de consumo aos mais variados setores da economia global. A tendência “Future Proof Recipes” analisa que à medida que a pressão para reduzir o desperdício de alimentos segue aumentando, os consumidores preocupados com o clima estão flexibilizando suas dietas, abrindo para novas receitas saudáveis para eles e também para o planeta.
Entre os exemplos citados no relatório são marcas inovadoras que estão investindo em tecnologia e ciência para oferecer estas alternativas alimentares, como o Impossible Burger, o hambúrguer à base de plantas que “sangra”, e outros similares que começam a ser vendidos no mercado.
“Reuse Revolutionaries” está entre as tendências apontadas no Top 10 Global Consumer Trends 2020 do Euromonitor, que reforça outro aspecto que o aumento da conscientização ambiental está impulsionando: a tendência de reutilização, que está abrindo mais uma frente de oportunidades de negócios sustentáveis. “Novos modelos de negócios que evitam a geração de resíduos estão atraindo consumidores mais éticos que adotam a sustentabilidade por meio de produtos mais duradouros”, diz o estudo.
A batalha contra o desperdício também encontra na tecnologia uma aliada, indica a JWT na tendência “Solving the Surplus”, ao apontar que empresas começam a projetar soluções sofisticadas para combater o desperdício de embalagens de alimentos. “Ao criar aplicativos e plataformas que utilizam os sistemas de alimentos e entrega existentes, as empresas estão ajudando os consumidores a adotar práticas mais ecológicas com facilidade e conveniência”, diz o estudo.
Na tendência “Proudly Local, Going Global”, a Euromonitor também identifica uma preferência dos consumidores por produtos locais, por entendê-los mais autênticos e alinhados à cultura, impulsionando marcas e produtos nacionais, além de desafiar multinacionais a oferecer produtos com estes perfis de consumo e respectivo poder de compra, além de adquirir players locais. “Os consumidores estão priorizando a responsabilidade ambiental, ajudando as empresas locais a prosperar e se reconectar com as comunidades”, diz o relatório, ao acrescentar que alimentos e bebidas estão entre as principais indústrias locais, com 85% da produção vendida nos países produtores em média.
Em conexão a todo este movimento e o interesse crescente das pessoas pela origem dos ingredientes, o Innova identificou um apetite maior do consumidor em descobrir a história por trás de seus alimentos, e que está influenciando cada vez mais as decisões de compra. Este comportamento acentuado rendeu a liderança dos 10 Top Trends do Innova para este ano: “Storytelling: Winning with Words”. O consumidor quer aprender mais sobre como os alimentos são produzidos, facilitando na compreensão dos benefícios do produto, além de criar uma confiança importante na marca.
Pesquisa do Innova indica que 56% dos consumidores globais dizem que as histórias em torno de uma marca influenciam sua decisão de compra.
“Contar histórias certamente torna as compras mais interessantes. A proveniência dos ingredientes é um aspecto dela. A internet tornou tudo mais transparente e esse é um grande fator para a narrativa. Pequenas marcas roubaram a liderança de pensamento na indústria de alimentos e isso é fundamental para o seu marketing ”, disse Lu Ann Williams, diretora de inovação da Innova Market Insights, ao FoodIngredientsFirst.
Segundo a diretora do Innova, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa estão ajudando a impulsionar a tendência “Storytelling: Winning with Words”:
“Sabemos que diferentes grupos geracionais se preocupam com aspectos distintos. Por exemplo, a geração do milênio se preocupa com causas sociais e agora vemos todos os cafés promovendo algum tipo de causa social ou ética. A geração X se preocupa com o desperdício de alimentos e também vemos muitas histórias sobre isso”.
Guiada por este cenário, a Mintel reforça recomendações às marcas no relatório Global Food and Drink Trends 2030:
“Os consumidores recompensarão as empresas que agirem em questões ambientais, instituirão práticas comerciais éticas e melhorarão outras causas sociais importantes. As empresas que vencerão de 2020 a 2030 serão aquelas que alimentam a nova era o consumo consciente. Os consumidores conscientes de amanhã procurarão embalagens e produtos ecológicos, além de buscar orientações sobre como tornar suas dietas mais sustentáveis”.
Propósitos e valores alinhados
Divulgada no início de janeiro de 2020, a pesquisa Tendências Globais de Consumo para 2020, para entender como as decisões de compra individuais estão evoluindo, feita pelo Institute for Business Value (IBM) em parceria com a National Retail Federation (NRF), revelou que o propósito da marca supera o custo e a conveniência para os compradores de hoje.
Consumidores de todas as idades e rendas estão dispostos a pagar preços mais altos por produtos alinhados com seus valores pessoais, segundo o estudo; e 70% desses compradores que valorizam o propósito estão dispostos a pagar um valor adicional de 35% do custo inicial para compras sustentáveis, como produtos reciclados ou ecológicos.
Foram entrevistados cerca de 19 mil consumidores de 28 países, incluindo o Brasil, em todos os grupos demográficos e gerações, com idades entre 18 e 73 anos.
Entre suas recomendações, o estudo do IBM em parceria com a NRF aconselha às marcas e aos varejistas interessados em assegurar a participação de mercado de maneiras novas e competitivas:
- Ganhar a confiança dos consumidores através de transparência e rastreabilidade: “Empregue as tecnologias mais recentes para fornecer transparência aos métodos de produção e rastreabilidade dos materiais de origem. Demonstre seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, oferecendo detalhes sobre as operações e como você gerencia sua agenda de sustentabilidade.”
- Alavancar a sustentabilidade como um direcionador para operações de ponta a ponta e alinhar as iniciativas de sustentabilidade à sua competência principal. “Os fabricantes de bens de consumo não apenas são bons em produzir produtos acabados de alta qualidade, mas também são especialistas em reduzir o desperdício. Por exemplo, na indústria de alimentos e bebidas, alimentos descartados podem ter uma segunda vida em parceria com fazendas e cozinhas para transformar produtos em processo e semi-acabados que normalmente seriam descartados em subprodutos ricos em nutrientes, como ração animal, farinha protéica ou até cerveja. As marcas que atuam com um propósito também devem ajudar a construir uma economia circular e sustentável para as gerações futuras. Para preservar recursos e eliminar o desperdício no cenário atual do comércio, a sustentabilidade deve ser integrada e medida de ponta a ponta e em toda a cadeia de suprimentos para os fabricantes de bens de consumo embalados.”
Saúde, bem-estar e naturalidade
Intimamente conectado com as preocupações em relação à sustentabilidade, responsabilidade social corporativa, ética, transparência e meio ambiente, o apetite dos consumidores por saúde e bem-estar, diagnosticado nos relatórios de tendências de anos anteriores, seguirá aumentando. O relatório Global Food and Drink Trends 2030, da Mintel, afirma que os consumidores priorizam ainda mais as plantas em suas dietas, agora com a saúde do planeta em mente e a própria saúde, consolidando a tendência “Power do the Plants” de 2017.
“O desejo de consumir os benefícios naturais das plantas levará a mais produtos que glorificam o sabor, a cor e a textura inerentes a frutas, vegetais, grãos, sementes, especiarias e outras plantas”, diz a Mintel.
O Innova Market Insights confirma este movimento para 2020 na tendência “Plant-Based Revolution”, pontuando que a inovação baseada em plantas em alimentos e bebidas está mudando da tendência para o status de revolução alimentar, fazendo as empresas do setor e start-ups a assumirem o desafio de oferecer alternativas mais limpas de carne e laticínios, com perfis nutricionais aprimorados.
O claim à base de plantas registrou um crescimento médio anual de 68% de lançamentos de alimentos e bebidas entre 2014 e 2018 (Innova 2019).
A preocupação com o clima também vem inspirando inovações nas áreas de ingredientes, diz a tendência “Hot New Ingredients”, da JWT Intelligence. O relatório traz como exemplo a proteína em pó a partir de ar, água e eletricidade, que está em desenvolvimento pela finlandesa Solar Foods. Em seu site, a empresa afirma que é “um tipo de alimento totalmente novo, natural e livre de encargos da agricultura e da aquicultura”. Outros ingredientes que começam a surgir com aplicações novas são as sementes de melancia, como alternativa à soja e ao café, e a flor de ervilha.
Mood food
O entendimento mais holístico da saúde e bem-estar seguirá inspirando os consumidores a procurar produtos que os ajudem a melhorar o humor e a saúde do cérebro, dentro do conceito de mood food.
Ao mesmo tempo em que as pessoas começam a entender as conexões naturais entre os sistemas no corpo humano, surgem mais estudos sobre os benefícios dos pré e probióticos no eixo intestino-cérebro, abrindo novas oportunidades para marcas explorarem seu uso na saúde do intestino e do cérebro, indica o relatório Global Food and Drink Trends 2030 da Mintel. Para reduzir os efeitos do estresse e da ansiedade, as pessoas estão cada vez mais abertas a dietas com ingredientes funcionais emergentes, incluindo adaptógenos e nootrópicos, sinaliza a tendência “Smart Diets”.
“Quase 4 em cada 10 (38%) dos adultos brasileiros estão interessados em lanches feitos com ingredientes para beneficiar a saúde emocional.” (Mintel 2019)
A era mais cerebral, com muitas tarefas migrando para a internet, levará os consumidores a procurar produtos que auxiliam no alerta e na concentração, como cafeína, vitaminas do complexo B e GABA, que atrairão estudantes e profissionais que estão sob pressão para ter o melhor desempenho.
A aceitação e uma maior familiarização do consumidor a estes ingredientes também foi indicada na tendência “A Star is Born”, do Innova, que identificou um crescimento de 20% em lanches de alimentos e bebidas com prebióticos (Global, 2018 vs. 2017).
Em convergência, “Minding Myself”, da Euromonitor, afirma que o auto-cuidado é uma tendência de longo prazo, em que o bem-estar mental estará à frente das preocupações dos consumidores: as decisões de compra serão baseadas em estados de necessidade personalizados para abordar os mais diferentes aspectos, como ansiedade ou baixa energia. Para atender a estas demandas, cada vez mais, a funcionalidade estará cruzando categorias, em especial de bebidas alcóolicas e refrigerantes. A procura por bem-estar mental será tão intensa que moldará a futuro da socialização, prevê o relatório.
“Ocasiões tradicionais de beber e comer estão mudando. No passado, as empresas tradicionalmente posicionavam suas marcas para consumo em determinados momentos do dia. Agora, mais produtos estão mostrando como eles atendem a um estado específico de necessidade do consumidor”, afirmam Gina Westbrook, diretora de Tendências do Consumidor, e Alison Angus, chefe de Pesquisa de Estilos de Vida, no relatório da Euromonitor.
“A comida já é algo que os consumidores associam ao humor e ao bem-estar; portanto, existe um enorme potencial no futuro para alimentos e dietas que melhoram o humor”, recomenda o relatório da Mintel.
Em paralelo ao interesse por estes ingredientes funcionais, os consumidores seguirão prestando atenção nos macronutrientes, como as proteínas, os lipídios e os carboidratos, e seus efeitos na saúde, aponta o Innova na tendência “Macronutrient Makeover”.
Estimulada pelo apetite voraz por bem-estar e saúde, haverá também a intensificação do cross-over entre os mercados de alimentos e de cosméticos, prevê a tendência “Eat Pretty” do Innova. A alimentação começa a ser vista também uma aliada para promover a aparência física, do corpo, do cabelo, da pele, por exemplo.
Personalização das dietas
A personalização das dietas não é um assunto novo e se mantém firme como uma possibilidade que deve crescer fortemente nos próximos anos, indicam os relatórios de tendências divulgados recentemente. O acesso mais amplo a testes de DNA e tecnologias de coleta de dados pessoais ajudará as pessoas a entenderem melhor suas necessidades biológicas únicas e a relação entre suas dietas, a saúde cognitiva e o bem-estar emocional, segundo a “Smart Diets”, uma das três tendências para alimentos e bebidas mapeada pela equipe de especialistas da Mintel para os próximos 10 anos, uma evolução da tendência de 2019 “Diet por DNA”.
Os algoritmos permitirão a pessoa a entender, por exemplo, suas preferências individuais de sabor ou, então, quais ingredientes, dosagem e hora do dia são melhores para consumir para determinado objetivo, como foco, concentração, disposição ou relaxamento.
A nutrição personalizada também pode ser um trunfo para ajudar as pessoas a ficarem bem à medida que envelhecem, com recomendações alimentares que podem melhorar a memória, por exemplo, prevenindo a demência e o Alzheimer.
Para os especialistas da Mintel, o monitoramento de saúde pessoal ajudará os consumidores a entender seus desejos e traduzir isso para o que seus corpos realmente precisam, trazendo inclusive oportunidades para categorias indulgentes, como confeitaria e sorvetes. “Se os dados sobre o DNA e sua composição fisiológica determinam que haverá benefícios emocionais ao comer uma barra de chocolate, os consumidores se sentirão menos culpados e mais autorizados a comê-lo”, exemplifica o relatório.
Uma das atuações das marcas de alimentos e bebidas pode ser no sentido de “associar-se a tecnologia que entende as preferências de sabor e textura para sugerir novos produtos e receitas para experimentar”, propõe a Mintel.
O relatório de Tendências 2020 da Euromonitor também aborda a questão da personalização em “Private Personalisation”, em que afirma que ao mesmo tempo que os consumidores esperam que as marcas adaptem produtos e serviços a eles, se preocupam com a entrega de suas informações pessoais para otimizar sua experiência.
Outra forma que as indústrias de alimentos e bebidas começam a explorar mais, tornando a personalização possível, está nos lançamentos de edições limitadas, indica a Innova na tendência “Brand Unlimited”. Houve um crescimento médio anual de 36% médio anual nos lançamentos de alimentos e bebidas com reivindicação de “lote limitado” (Global, GAGR 2014-2018).
No Brasil, 42% da geração Z de adultos (nascidos após 1999) e 34% da geração Y (nascida de 1982 a 1998) gostaria de ter mais opções de produtos personalizáveis (Mintel 2019).
Experiência, indulgência, conveniência
Entre as transformações que o comportamento de consumo está passando em relação à alimentação, há questões que permanecem fortes no ranking de preferências: o gosto por novas experiências que surpreendam e tragam prazer.
Texturas, fusão de categorias em um único produto e sabores diferenciados encabeçam duas tendências do Innova para 2020: “Tapping into Texture” e “Hello Hybrids”. “Os consumidores reconhecem cada vez mais a influência da textura nos alimentos e bebidas, permitindo uma experiência sensorial elevada e, muitas vezes, um sentimento de indulgência maior”, afirma o estudo.
7 em 10 consumidores globais reconhecem que a textura confere aos alimentos e bebidas uma experiência mais interessante (Innova 2019).
O relatório traz um exemplo: comparado às panquecas normais, os consumidores globais percebem panquecas com textura mais “fofa” como mais indulgentes, mais emocionantes, com maior qualidade e mais gostosas. No Brasil, 8 em cada 10 consumidores querem experimentar panquecas “fofas”, diz pesquisa do Innova.
A tendência “Hello Hybrids” sinaliza que os consumidores mais aventureiros são altamente receptivos a produtos híbridos, que misturam, por exemplo, perfis de sabor ou texturas de alimentos: 7 em 10 dos consumidores americanos “gostam de produtos que misturam sabores, como doces e salgados”.
A Coca-cola é apresentada como case de fusão de categorias: com as versões Plus Coffee, Energy, Juice & Nectars (Vanilla & Orange) e Alcoolic Drinks.
Bares e restaurantes vêm apostando em opções desconstruídas de coquetéis clássicos, segundo a tendência da JWT “Complex Cocktails”, fazendo combinações inusitadas de ingredientes, como diferentes tipos de rum, de conhaque, de licores, gin, bitters, vermute e outros aperitivos de todo o mundo, para oferecer novas experiências e atrair principalmente as gerações mais jovens.
Já para atender a outro perfil de público, os que reduziram o consumo de bebidas alcoólicas, começam a pipocar em diferentes países bares e restaurantes que estão se dedicando a menus com opções de coquetéis sem álcool, kombuchas e até mesmo alternativas nutritivas não alcoólicas, recorrendo a ingredientes como carvão ativado e extrato de canabidiol (onde é liberado) em suas cervejas, ou ervas e especiarias, sinaliza a tendência “Sober Bars”, também da JWT.
Aliás, notas de ervas tradicionalmente associadas a infusões, como chá ou erva-mate, estarão em alta em 2020 e serão cada vez mais usadas para dar sabor aos alimentos.
Já contemplada pelas principais categorias de alimentos e bebidas, a conveniência segue em alta. Afinal, tem a missão de ajudar os consumidores que estão gerenciando carreiras, famílias e vidas sociais enquanto tentam manter estilos de vida saudáveis, aponta a tendência “The Right Bite”. “Por isto, aumenta a demanda por alimentos nutritivos, fáceis de preparar, convenientes e portáteis”, diz o Innova, ao reforçar que nisto também entram as guloseimas indulgentes, que podem proporcionar relaxamento e prazer.
A conveniência também é destacada pela tendência “Co-cooking kitchens”, do relatório Future 100 Trends 2020, que prevê avanço na popularização das cozinhas comunitárias, no embalo da explosão dos escritórios de coworking, abrindo espaços para inovação, socialização e interação.
Revolução agrícola
A preferência por dietas saudáveis, reforçada pela conscientização ambiental, alimentará o interesse dos consumidores também pela agricultura, afirma o Global Trends Consumer 2030 da Mintel, ao prever que até o final da década as fazendas verticais e micro-fazendas locais fornecerão a maior parte dos alimentos frescos que as pessoas consomem nos grandes centros urbanos.
A tendência “High-tech Harvests” prevê que nos próximos 10 anos os consumidores vencerão a cautela em relação à intervenção científica em alimentos, bebidas e serviços de alimentação, passando a aceitar mais e confiar no papel essencial que a ciência e a tecnologia têm em garantir o acesso a alimentos e bebidas seguros e nutritivos.
Segundo a tendência, as crises climáticas são outro aspecto que vem pressionando para inovações científicas para assegurar o fornecimento consistente de ingredientes às empresas de alimentos e bebidas. Um dos exemplos é o desenvolvimento de plantas resistentes ao estresse ambiental.
Os modelos agrícolas internos e verticais facilitarão o controle sobre o meio ambiente e a vantagem da rastreabilidade, diz o relatório. Além disso, haverá a possibilidade de controlar os aspectos que interferem no sabor das plantas para torná-las mais atraentes. Por exemplo, couve menos amarga.
Os especialistas da Mintel chegam a prever também que “haverá ampla adoção de ingredientes sintéticos e criados em laboratório a partir de 2020. As empresas de alimentos e bebidas devem introduzir soluções de alta tecnologia com explicações claras e verdadeiras da tecnologia e suas vantagens para produzir alimentos e bebidas de forma mais sustentável”.
A preocupação com o esgotamento do solo promovido pela agricultura intensiva também aparece na tendência “Regenerative Farming Revolution”, do The Future 100 Trends 2020. Segundo o relatório, marcas de alimentos estão estimulando agricultores a fazerem a transição para a agricultura regenerativa, que abrange uma série de técnicas que restauram ativamente a qualidade do solo, com o benefício adicional de sequestrar o carbono e reduzir gases de efeito estufa.
Tecnologia e inovações científicas
Tecnologia e inovações científicas estão conectadas a diferentes tendências desta virada de década.
“Beyond Human”, do relatório de Tendências 2020 da Euromonitor, diz que as pessoas estão começando a aceitar que certas tarefas podem ser executadas por robôs ou outras inteligências artificiais (IAs). “Embora a confiança total e o acesso universal a essa tecnologia levem mais tempo, estamos adotando a ideia de robôs orientados por IA para o nosso próprio bem-estar, conveniência e conforto”, diz o relatório, que acrescenta que esta tecnologia será usada tanto para automatizar a fabricação e a logística, para entender as demandas diferenciadas dos consumidores e fornecer soluções personalizadas com precisão.
É aí que entram também as tecnologias para avanços na elaboração de dietas individuais para a saúde física e mental, previstas na tendência, já comentada, “Smart Diets”. Hoje ainda caros, os kits de testes de DNA em casa passarão a se tornar soluções de bem-estar personalizadas na próxima década e o compartilhamento de dados pessoais entre dispositivos conectados à internet devem promover conveniência, por exemplo, a lista de compras, receitas e refeições recomendadas e personalizadas de acordo com as preferências de sabor e textura, afirma o relatório da Mintel.
Em paralelo, seguem as pesquisas de nutrigenômica, uma ciência jovem, que estuda a interação entre nutrientes e os genes humanos com o objetivo de ajudar as pessoas a ter qualidade de vida, saúde e até prevenir doenças através de dietas personalizadas.
A preocupação das pessoas por bem-estar e saúde vem repercutindo cada vez mais no interesse pela saúde do planeta, instituindo uma nova era: a do consumo consciente, segundo indicam as tendências para alimentos e bebidas para 2020. Como você avalia o seu consumidor no contexto destes movimentos?
Agora que você já conhece as tendências 2020, não deixe de ler o post sobre o cenário do mercado brasileiro de alimentos para este ano.