Cólicas, inchaço, enjoos, dores de estômago e diarreia – estes são apenas alguns dos sintomas da intolerância à lactose, que afeta cerca de 65% dos adultos, segundo o estudo “Prevalência de desenvolvimento de intolerância à lactose em adultos”, divulgado em 2022 que constata ainda que a incidência varia de uma região para outra. Ela se caracteriza pela dificuldade ou incapacidade do organismo de absorver a lactose devido à deficiência ou falta da lactase, enzima responsável por digerir esse carboidrato presente nos laticínios.
O diagnóstico crescente da intolerância à lactose e a preocupação maior com um estilo de vida mais saudável são os principais motores que alimentam a expansão desse nicho, criando oportunidades para as indústrias alimentícias. De acordo com a plataforma de pesquisa Euromonitor International, a expectativa é que o mercado brasileiro de alimentos sem lactose cresça de US$1,2 bilhões em 2021 para US$1,3 bilhões em 2022, a uma taxa anual composta (CAGR) de 7,6%.
Quando analisamos o número de lançamentos de produtos sem lactose, o mercado global alcançou US$ 10,8 bilhões em 2021 com uma projeção de chegar a US$ 11,35 bilhões em 2022, a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5,0%, segundo o relatório da The Business Research Company.
A seguir, vamos abordar as principais razões que levam o consumidor a limitar o consumo de lactose. E também apresentaremos estratégias de desenvolvimento de produtos para atender a essa demanda crescente da indústria de alimentos.
Motivos da restrição à lactose
Os produtos sem lactose são convencionalmente direcionados para pessoas que apresentam dificuldade ou não conseguem produzir a enzima lactase em quantidades suficientes ao consumirem este carboidrato. Para essas pessoas, a lactose é mal absorvida pelo organismo, resultando em fermentação bacteriana instantânea, que contribui para uma variedade de sintomas de desconforto digestivo e que podem se manifestar ao longo de horas.
Mas a demanda por produtos sem lactose se expandiu para além desse público, graças ao seu forte apelo à saudabilidade na visão do consumidor e à saúde digestiva.
Por isso, muitos consumidores que buscam adotar dietas alternativas passaram a se interessar por esse tipo de alimento.
Tecnologias envolvidas no processo
Para se elaborar um produto isento de lactose, há hoje em dia uma série de ferramentas tecnológicas, todas pautadas no processo de hidrólise da lactose – que é a conversão desse carboidrato (açúcar) em glicose e galactose (açúcares mais simples).
Uma das tecnologias mais conhecidas é a hidrólise ácida, que consiste na diminuição das concentrações de lactose por meio de modificações de temperatura e pH do laticínio utilizado.
Outra técnica muito conhecida é a hidrólise enzimática, realizada a partir de enzimas na forma livre, recuperadas ou imobilizadas – essas cada vez mais exploradas por serem mais estáveis ao meio de reações químicas.
Há também técnicas mais recentes que vêm ganhando relevância por sua alta eficiência e relação custo x benefício, como a separação por membranas, capaz de concentrar e fracionar o leite gastando pouca energia – já que não há necessidade de nenhuma mudança de fase durante a desidratação.
Tendências e oportunidades
Há uma maior procura por produtos que sejam de fácil digestão e que evitem compostos que podem causar algum desconforto, como a lactose e o glúten. Trata-se da tendência “free from” – ou, em português, “livre de”.
Um exemplo disso é o leite: um alimento básico, estabelecido em muitos lares, e considerado nutritivo. Como uma parcela de consumidores passou a considerar os laticínios de difícil digestão, muitos reduziram ou até mesmo passaram a evitar a ingestão de leite.
Para atender esse movimento, as indústrias começaram a investir em produtos com formulações sem lactose e também à base de vegetais.
E, nesse sentido, destacar os benefícios percebidos para a saúde dos laticínios sem lactose, como “de fácil digestão”, pode desempenhar um forte papel no crescimento desta categoria.
Outra oportunidade dentro desse setor são os alimentos e bebidas com perfil mais indulgente para os intolerantes à lactose – que relatam sentir falta de apreciar produtos como café com leite, chocolates e sorvetes.
Inspirações globais
Alguns grandes produtores mundiais de laticínios buscaram se beneficiar da tendência “sem lactose” nos últimos anos, concentrando seus esforços de inovação em versões de leite de vaca, iogurte, queijo, kefir etc.
Para exemplificar isso, mostramos a seguir algumas marcas precursoras nesse setor que expandiram seus portfólios com preparações lácteas.
Novidades locais
No Brasil, diversas empresas também estão inovando no setor, como a Kopenhagen, que lançou a linha “Soul Good” de bombons, chocolates e doces variados – sem açúcar e sem lactose.
A Nestlé criou recentemente versões de leite em pó sem lactose. Já a Verde Campo conta com uma grande variedade de laticínios isentos de lactose em seu portfólio.
Em outra frente de inovações para atender a esse público crescente, empresas têm investido em preparações à base de bebidas vegetais, livres de laticínios. É o caso da Nescafé, que lançou cappuccinos à base de leite de amêndoas, aveia e coco.
A Coco Densado fabrica pastas e cremes doces feitos à base de leite de coco. Ambas as marcas comunicam o termo “livre de lactose”.
Com uma demanda crescente de consumidores cada vez mais interessados em sua saúde digestiva, reforçada pelo público com diagnóstico de intolerância alimentar, ampliam-se as oportunidades para as indústrias de alimentos e bebidas para expansão de portfólio.
Empresas atentas a esses movimentos têm investido na diversificação e ampliação das suas linhas de produtos, com formulações de laticínios “sem lactose” e também opções de produtos à base de plantas.