Confira as principais tendências de consumo de alimentos e bebidas para 2020
A reação, mesmo que tímida, do mercado de alimentos em 2017 anima estimativas mais otimistas de crescimento neste ano pela ABIA e por análises de comportamento do consumidor.
Após 2 anos de retração, provocada pela recessão econômica que amargou queda de 7,5% do PIB em 2 anos consecutivos, o mercado de alimentos voltou a avançar em 2017 no Brasil. A reação, embora ainda tímida, sinaliza para a possibilidade de um crescimento mais vigoroso em 2018.
Segundo o Relatório Anual da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA), a indústria da alimentação cresceu nominalmente 4,6% em 2017, com um ganho real no faturamento de 1,01%, e atingiu a cifra de R$ 642 bilhões, significando uma correlação deste faturamento com o PIB do país da ordem de 9,8%.
A maior fatia deste mercado é do mercado de alimentos, que corresponde a 81% do total e que subiu 4,7% em 2017; enquanto que o setor de bebidas ocupa 19% e apresentou um aumento de 4,2% no ano passado.
A produção no setor de alimentos cresceu 1,25% em 2017, em contraponto às quedas de 2,9% em 2015 e de 0,98% em 2016, segundo a ABIA. Para 2018, a entidade espera um crescimento entre 2,5% e 2,9%.
O consumo de alimentos também reagiu em 2017, apresentando um crescimento de 4,6%. Segundo o Relatório da ABIA, o varejo alimentar aumentou 3,8% e as vendas de serviço de alimentação fora do lar, 6,2%. A entidade prevê, para 2018, um avanço real de 2,7% a 2,9% nas vendas do setor de alimentação do país.
ÍNDICE
- Indicadores de recuperação econômica influenciam mercado de alimentos
- Maior empregador na indústria de transformação
- Recuo de fusões e aquisições
- Números do Setor de Alimentos e Bebidas do Brasil
- Consumo retraído no 1º trimestre de 2018 no Brasil
- Setor atacadista distribuidor otimista para 2018
- A reação do consumidor em 2018: cautelosa e mais consciente
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Indicadores de recuperação econômica influenciam mercado de alimentos
A expectativa positiva da ABIA para 2018 se respalda em indicadores importantes da recuperação econômica no país, como a queda da inflação no ano passado (a estimativa de baixa mantida para este ano) e a supersafra agrícola em 2017, que permitiram a redução do preço dos alimentos, refletindo no aumento do consumo em vários setores da economia.
O então presidente da ABIA, Edmundo Klotz, em entrevista ao jornal “Valor” em fevereiro deste ano, afirmou que a entidade prevê, para 2018, um avanço de 2,6% a 2,8% no faturamento real do setor, descontando a inflação de 2,7% estimada para o ano. A expectativa de crescimento foi projetada a partir da previsão de 1,9% para o PIB brasileiro feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Klotz disse que espera melhorias no desempenho das exportações de alimentos e recuperação do consumo no Brasil, favorecida pela inflação baixa, em 2018.
Este desempenho de 2017 também refletiu nas vendas dos supermercados, que tiveram crescimento real de 1,25% em comparação a 2016, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) no início deste ano. Para 2018, a entidade previu um aumento real de 3% nas vendas, baseando seus cálculos na inflação oficial (IPCA/IBGE).
Maior empregador na indústria de transformação
Maior empregador na indústria de transformação do país, com 1,6 milhões de empregos diretos, a indústria de alimentos e bebidas tem importante peso na balança comercial do país. Em 2017, segundo dados divulgados pela ABIA, os alimentos processados foram responsáveis por US$ 33,4 bilhões dos US$ 67 bilhões da balança comercial do Brasil.
O mercado interno corresponde a 80,7% do faturamento do setor, e as exportações, 19,3%, de acordo com o Relatório Anual da ABIA 2017.
De 2016 para 2017, o mercado trouxe mudanças em relação às preferências do consumidor. Em 2017, os campeões de crescimento em vendas foram: em 1º, produtos diversos, com 10,9%; em 2º, conservas vegetais, com 5,8%; e em 3º, desidratados e supercongelados, com 5%. No ano anterior, os campeões haviam sido: em 1º, café e açúcar, com 9,4%; em 2º, conservas vegetais e sucos (4,4%); e em 3º, óleos e gorduras (1,7%).
Recuo de fusões e aquisições
A reação do mercado em 2017 não se refletiu nos investimentos do setor de alimentos. De acordo com a ABIA, os investimentos recuaram em 1,1% no ano passado, de R$ 9 bilhões para R$ 8,9 bilhões. Klotz observou, na entrevista ao “Valor”, que a redução foi verificada nas indústrias de café, chás e cereais, açúcar, carne e derivados, conservas vegetais e sucos e derivados do trigo. Em anos anteriores, segundo ele, houve mais investimentos das empresas com abertura de fábricas no Norte e no Nordeste. Da mesma forma, o volume de fusões e aquisições também caiu 14,7% em 2017 no Brasil, chegando a R$ 9,9 bilhões.
Números do Mercado de Alimentos e Bebidas do Brasil
Relatório Anual ABIA 2017
Fonte: ABIA – Indústria da Alimentação em 2017
Consumo retraído no 1º trimestre de 2018 no Brasil
De janeiro a março deste ano, o setor de alimentos manteve-se em retração no Brasil, sem conseguir corresponder ainda à performance de crescimento de vendas estimado pela ABIA para 2018.
Entre os fatores que podem ter influenciado este resultado estão o clima de incerteza econômica, de instabilidade política no país provocado pelas eleições deste ano, o crescimento da taxa de desemprego a 13,1% no 1º trimestre de 2018, totalizando 13,689 milhões de pessoas — segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) — e mudanças no próprio comportamento do consumidor brasileiro, mais cauteloso.
Em dezembro de 2017, a agência Nielsen divulgou o estudo 360º Consumer View, realizado anualmente com 8.240 lares, que busca entender como atualmente os lares administram sua renda e seus gastos, por exemplo, e as diferentes dinâmicas de consumo. De acordo com esta análise, a renda das famílias brasileiras cresceu 11% em 2017, principalmente pela retomada do emprego. Mas os gastos foram freados como medida de cautela, apontando apenas 1% de aumento de 2016 para 2017.
Diante da crise econômica dos anos anteriores, as famílias tiveram que aprender a fazer escolhas mais responsáveis e passaram a optar por canais que ofereçam melhor custo-benefício em busca de economia, segundo análise do especialista em entendimento do consumidor da Nielsen, Ricardo Alvarenga.
Em outro levantamento divulgado pela Nielsen em janeiro deste ano, o Estudo Global sobre Confiança do Consumidor da Nielsen, referente ao 3º trimestre de 2017, mostrou que a confiança dos latino-americanos manteve um ritmo de crescimento frente ao 2º trimestre, com melhora de 3 pontos (88). Mas reforçou, também, as principais preocupações dos latino-americanos — e brasileiros — em relação ao futuro incerto da economia, que lidera o ranking com 32%; em seguida aparece a segurança no trabalho (23%); e o crime (22%).
O estudo também apurou que, para fazer frente a este cenário de instabilidade, os consumidores adotaram várias medidas de poupança. As três que lideram o ranking são: reduzir entretenimento fora de casa (51%); comprar menos roupa (49%); e mudar para marcas de alimentos mais baratas (47%).
Fonte: Estudo Confiança do Consumidor – Terceiro Trimestre de 2017 – Nielsen
Setor atacadista distribuidor otimista para 2018
A reação do mercado de consumo em 2017, mesmo que tímida, anima o segmento atacadista distribuidor a manter uma expectativa otimista, com perspectiva de crescimento entre 2% e 3% para este ano. É o que sinalizou o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), Emerson Destro, na divulgação da 24ª edição do Ranking ABAD/Nielsen 2018 (ano-base 2017), realizada durante a 38ª Convenção Anual do Canal Indireto – ABAD 2018, que aconteceu nos dias 24 e 25 de abril.
Segundo o levantamento, o faturamento do setor chegou a R$ 259,8 bilhões em 2017, com crescimento nominal de 3,7% e real de 0,7%, descontando o IPCA oficial de 2017, que foi de 2,95%. Os agentes de distribuição participaram com uma fatia de 53,6% de um mercado de consumo estimado em R$ 484,9 bilhões em 2017, que compreende produtos de uso comum das famílias, como alimentos, bebidas, limpeza, higiene e cuidados pessoais. O ganho de produtividade obtido pelo setor, segundo Destro, é resultado do aumento de vendas com quadro mais enxuto de funcionários.
Os números foram apurados a partir de dados fornecidos voluntariamente por empresas do setor associadas à ABAD e analisados pela consultoria Nielsen, em parceria com Fundação Instituto de Administração (FIA). Nesta pesquisa, participaram 614 empresas de todas as regiões do Brasil, uma amostra equivalente a 40,8% do faturamento do setor. Segundo a ABAD, o segmento responde por 95% do abastecimento dos varejos tradicionais e dos pequenos mercados (1 a 4 checkouts), 85% do abastecimento de bares e 45% do que é fornecido aos varejos de farma-cosméticos.
Em termos de faturamento do setor, a liderança fica com o Sudeste (38%), seguido pelo Nordeste (25%), pelo Sul (15%), pelo Centro-Oeste (13%) e pelo Norte do país (8%). As informações apuradas pela pesquisa confirmam a tendência, já verificada em pesquisas anteriores, de crescimento mais acentuado nas empresas de porte médio, que atendem apenas um estado.
O coordenador de Projetos da FIA – Fundação Instituto de Administração e responsável pelas análises do Ranking ABAD/Nielsen, Nelson Barrizzelli, destacou a importância do atacado brasileiro, que mantém a marca acima de 50% no abastecimento, atingindo as grandes capitais, as cidades do interior e mesmo os locais mais remotos.
“Sem esse suporte, dificilmente as indústrias aqui instaladas conseguiriam levar seus produtos para todos os lares brasileiros”, afirmou, em entrevista à Revista Distribuição. “O setor conseguiu apresentar dados positivos dentro desse cenário de crise, mas serão necessários, se tudo der certo, mais 3 ou 4 anos para chegarmos à posição da qual saímos em 2014”, observou Barrizzelli.
Para ele, o crescimento de 0,7% foi um exemplo de maturidade do setor, que está atento às mudanças conjunturais.
A reação do consumidor em 2018: cautelosa e mais consciente
Para a diretora de Retail Services da Nielsen, Daniela Toledo, o levantamento indica o início da recuperação do consumo em 2017, mas ainda sem consistência e solidez. “Vejo uma perspectiva positiva de crescimento do setor em faturamento e em volume, porém tímido em relação ao potencial”, declarou em entrevista à Revista Distribuição.
Em sua palestra na abertura da 38ª Convenção Anual do Canal Indireto – ABAD 2018, Daniela fez uma análise do comportamento do consumidor em 2017 e início de 2018. Ela destacou que o consumidor ainda está preocupado com o clima de incerteza na economia e na política. Mas, de forma cautelosa, está caminhando para uma retomada do consumo:
“Começando a fazer mais as compras de reposição, que têm ticket menor e que ele havia reduzido em prol da compra de abastecimento.”
Nesta retomada da compra de reposição, o consumidor está buscando mais conveniência, o que beneficia, por exemplo, os canais mais próximos do consumidor, como o supermercado da vizinhança.
O cenário de crise estimulou o consumidor a buscar mais canais de compra, como por exemplo o cash & carry, em busca de melhores preços e economia. Este hábito será mantido, segundo Daniela: o consumidor continuará mixando os canais, em busca de economia.
“O que a gente vê é um consumidor muito mais maduro e consciente, que aprendeu a fazer contas, porque se costumava dizer que o brasileiro não sabia fazer a conta do preço por quilo, por litro, o que valia era o desembolso, que era muito fiel a determinadas marcas e que não arriscava o seu dinheiro para trocar”, afirmou a diretora da Nielsen.
“Virada” no consumo se torna uma realidade
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Fonte: Palestra Nielsen/Convenção Anual ABAD 2018
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