O movimento upcycling food, que tem como objetivo reduzir os desperdícios e os impactos do consumo no meio ambiente, tem inspirado o desenvolvimento de alimentos e bebidas sustentáveis.
Linha de sopas feitas com vegetais que seriam descartados, subprodutos de alimentos transformados em novos ingredientes, grãos excedentes em cervejarias que viram snacks e água mineral extraída da produção de suco concentrado. Estes são apenas alguns exemplos de como a indústria de alimentos têm inovado para transformar o que iria para o lixo em produtos saborosos e nutritivos.
Esses esforços fazem parte de um movimento que ganha cada vez mais força: o upcycling food – do inglês comida reciclada -, que tem como objetivo reduzir o desperdício de alimentos e os impactos do consumo no meio ambiente.
O Whole Foods Market, rede de supermercados multinacional dos Estados Unidos que comercializa produtos naturais e orgânicos, identificou o upcycling food como uma das dez principais tendências em alimentos de 2021.
Para se ter ideia do tamanho do desperdício de alimentos, de acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o problema representa perdas globais de quase 1 trilhão de dólares a cada ano, incluindo os recursos usados no cultivo, processamento, embalagem, transporte e comercialização desses alimentos. Além dos prejuízos econômicos, são 70 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa gerados por esse desperdício.
A FAO também estima que 6% das perdas mundiais em alimentos se dão na América Latina e no Caribe. A cada ano, a região desperdiça cerca de 15% dos alimentos disponíveis. Além disso, América Latina e Caribe são responsáveis por 16% da pegada de carbono global gerada por esse problema. Com os alimentos desperdiçados no momento da venda, em supermercados, feiras e armazéns, daria para alimentar mais de 60% da população dessa região que sofre com a fome.
Tudo isso tem impacto direto na sustentabilidade dos sistemas alimentares. Portanto, a reciclagem de alimentos pode contribuir para a agenda em favor do meio ambiente e é também uma grande oportunidade para a indústria de alimentos e bebidas fomentar a sustentabilidade, além de oferecer inovação aos consumidores.
Upcycling food: Um movimento promissor
Segundo pesquisa da Mintel, 76% dos consumidores entrevistados disseram estar dispostos ou absolutamente dispostos a experimentar alimentos feitos com ingredientes reciclados se tais produtos tivessem um menor impacto ambiental. Na América Latina, mais de 60% das pessoas entrevistadas para uma pesquisa da Innova Market Insights, companhia global de inteligência de mercado, afirmaram estar interessadas em saber de onde vem a comida que consomem e na rastreabilidade da cadeia.
De acordo com o mesmo estudo, a América Latina, junto com a Ásia, são as regiões onde os consumidores demonstram maior interesse em saber de onde vem o alimento e como ele é feito. Na análise da Innova, um dos fatores para isso é que talvez esses consumidores tenham sido menos expostos a tais detalhes até o momento. Os consumidores em países economicamente mais desenvolvidos já se beneficiam dos níveis mais altos de clareza e escolha existentes, mas também há interesse em desenvolver ainda mais isso.
Além da preocupação com as questões ambientais e o engajamento crescente por parte do consumidor indicando a consolidação dessa tendência, a Future Market Insights, agência de pesquisa e inteligência de negócios, constatou que o mercado de ingredientes reaproveitado já valia mais de US$ 46 bilhões em 2019 e deve crescer 5% ao ano na próxima década. Um exemplo que ilustra esse crescimento é a RIND, fabricante de salgadinhos de frutas funcionais e sustentáveis com sede em Nova York, que utiliza a casca descartada das frutas. A empresa teve aumento de 500% nas receitas em 2020.
Recentemente, a startup escandinava de alimentos veganos Mycorena também recebeu um investimento de US$ 9 milhões e se tornou uma das fabricantes globais de micro-proteína. O Promyc, principal ingrediente de micro-proteína da Mycorena, é desenvolvido pela reciclagem de resíduos de alimentos no processamento industrial. Ele já está sendo testado como ingrediente de proteína em vários produtos veganos vendidos na Escandinávia.
Além disso, de acordo com a Innova, quando questionados sobre os fatores que mais influenciariam sua decisão de compra, considerando meio ambiente e ética, 35% dos consumidores latinos disseram que pagariam mais por itens sustentáveis e ecologicamente amigáveis, e 33% pagariam mais por produtos que contribuem com causas sociais ou bem-estar animal. Mais um dado que reforça o interesse do consumidor quando o assunto é sustentabilidade.
Mas, afinal, o que são os alimentos reciclados?
A Upcycled Foods Association, dos Estados Unidos, define alimentos reciclados como “alimentos que consistem em reduzir o desperdício de comida, criando produtos alimentícios nutritivos e de alta qualidade a partir dos nutrientes que escapam pelas rachaduras do sistema alimentar”.
De acordo com a associação, os alimentos reciclados são:
- Feitos de subprodutos ou ingredientes que seriam desperdiçados;
- Produtos de valor agregado;
- Seguros para consumo humano, mas que também podem ser usados em rações para animais, alimentos para animais de estimação e cosméticos.
Além disso, os alimentos reciclados devem fazer parte de uma cadeia de suprimentos auditável que garanta sua procedência e assegure que, de fato, reduzem a pressão sobre o meio ambiente.
Conheça alguns produtos e ingredientes feitos a partir da reciclagem de alimentos, lançados por empresas que já abraçaram esse movimento:
Este novo movimento de mercado, mesmo recente, mostra um grande potencial de crescimento nos próximos anos, em especial junto a consumidores conectados com o cuidado com o planeta e as pessoas. E na sua empresa já há alguma iniciativa focada em Upcycled Foods? Conte para nós!